População preocupada com central de biometano em Leiria

Investimento na ordem dos 35 milhões de euros na freguesia de Amor, Leiria, irá transformar efluentes suinícolas em biometano e promete resolver problema de poluição que se arrasta há décadas.

A construção de uma central de biometano em Amor, no concelho de Leiria, anunciada no ano passado, está a preocupar a população da freguesia. Os moradores temem que a nova unidade, que irá tratar e valorizar efluentes agropecuários transformando-os em biometano, possa gerar maus cheiros, e que não trave por completo os espalhamentos de efluentes que atualmente se registam nos campos do Lis, que circundam a freguesia. Outros dos receios prende-se com o aumento de trânsito de camiões dentro das povoações.

As preocupações foram expressas numa sessão de esclarecimento, realizada na noite de ontem, quarta-feira, que contou com a participação de mais de uma centenas de habitantes. Na ocasião, os responsáveis da Génia Bioenergy, empresa espanhola que, em parceria com a Repsol, vai investir cerca de 35 milhões de euros na unidade, asseguraram que a tecnologia a adotar “já está testada e validada” e “inibe a existência de odores”.

“É uma garantia absoluta: a unidade não produz cheiros”, afirmou Amândio Santos, coordenador da empresa em Portugal, frisando que o despejo dos efluentes na unidade acontecerá num pavilhão “hermeticamente fechado”. “Não há odores”, complementou o presidente da Junta de Amor, Adriano Neto, que integrou uma comitiva da freguesia que, em fevereiro, visitou uma unidade da Génia Bioenergy em Córdoba, similar àquela que será construída em Leiria.

Em relação à circulação de camiões, o vereador da Câmara de Leiria Luís Lopes adiantou que se encontra em estudo a criação de um acesso à futura unidade a partir da EN109, para evitar que o transporte de efluentes seja feito pelo interior de Amor. “Em sede de avaliação ambiental será definido o trajeto a usar pelos camiões”, acrescentou.

Pedidas contrapartidas

Durante a sessão, alguns habitantes defenderam contrapartidas para a freguesia, de forma a compensar eventuais impactos. “Ficamos com a unidade, tratamos os efluentes dos outros e no final ganhamos ‘bola'”, criticou Célia Mota.

Confrontados com esta reivindicação, os representantes da empresa manifestaram abertura para contrapartidas, nomeadamente, a atribuição “à comunidade local de uma quota do biofertilizante” a produzir na unidade.

Também a água que resultar do tratamento e valorização dos resíduos – “cerca de 95% do efluente suinícola é água” – será disponibilizada para rega e para o combate a incêndios, depois de “devidamente tratada”.

Com capacidade para tratar anualmente 400 mil toneladas de efluente agropecuário (suinícola e avícola), a unidade contribuirá para uma redução de CO2 na ordem das 300 mil toneladas/ano. Da valorização dos resíduos resultará ainda a produção de 300 mil toneladas de biofertilizante.

Está também prevista a criação de unidade de inovação e desenvolvimento, a funcionar em articulação com a academia, e de uma central de biomassa, que permitirá o aproveitamento de resíduos agro-florestais.

Com o processo de licenciamento em andamento, a expectativa dos promotores é que a construção arranque no início de 2025 e que a central entre em funcionamento no primeiro trimestre de 2026.

“Se funcionar 10% daquilo que vi em Córdoba, ficaremos muito melhor do que estamos”, afirmou Mário Ruivaco, um dos moradores que visitou a unidade em Espanha, lembrando que a freguesia sofre há anos com o cheiro dos espalhamentos dos efluentes nos campos e a degradação da qualidade da água do rio.

O mesmo foi sublinhado por Sérgio Duarte, da associação ambientalista Oikos, que acredita que a unidade poderá “resolver um problema que não é só de Amor, mas do concelho e da região de Leiria”. O dirigente salientou ainda a importância da comissão de acompanhamento a criar, para monitorizar o desenvolvimento do projeto e o funcionamento da unidade, que tem um prazo de operação estimado em 30 anos.

Fonte: in site Jornal de Notícias

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